BATALHA DE AIGOSPOTAMÓI

O local exato da batalha de Aigospotamói, ou dos Rios das Cabras, é motivo de debates entre os historiadores modernos.

A HIPÓTESE MAIS DIFUNDIDA:

Em seu livro Lords of the Sea: The Epic Story of the Athenian Navy and the Birth of Democracy, John Hale argumenta com base em suas próprias observações a partir de uma visita de pesquisa ao estreito de Dardanelos, que a praia mais comumente indicada como o local da batalha não seria viável por várias razões:

  • Em sua ‘Vida de Lísandros’ Plútarkos escreveu que o náuarkos teria usado trirremes de reconhecimento para espionar os atenáioi, o que não faria sentido se a praia fosse justamente do outro lado do estreito. Hale afirma que do alto de um telhado em Lapseki (a cidade moderna) é possível contar as janelas dos edifícios na margem oposta usando nada mais do que o olho nu;
  • A praia tradicional tem uma faixa de areia muito estreita e inadequada para guardar as trirremes, pois a corrente do estreito tende a não deixar areia acumulada ao longo de costas retas e paralelas, como neste caso;
  • os atenáioi deveriam ter sido capazes de estabelecer um transporte de comida por mar a partir de Séstos para o acampamento sem estar à mercê do inimigo, pois estariam mais próximos desta cidade, o que não aconteceu;
  • segundo a hellênika de Xenofôn, Alkibiádes podia avistar o acampamento dos atenáioi a partir de sua fortaleza na pequena Paktyê (mais ao norte), o que teria sido impossível se o local fosse o tradicional;
  • Lísandros não poderia ter pegado os atenáioi de surpresa, pois seus movimentos teriam sido facilmente visíveis do outro lado;
  • a parada de Kónon em Abárnos teria sido inviável se ele tivesse partido de um ponto a jusante desta localidade. Tentando desesperadamente escapar para o mar aberto, ele certamente não remaria para o lado oposto, contra a corrente, para coletar o material náutico dos Lakedaimónioi.

A hipótese que adotei em minha história:

Como solução para essas inconsistências, Hale propõe que o verdadeiro local teria sido uma praia arenosa ao norte da moderna Gelibolu ou Galípoli (1), a montante da posição dos peloponésios em Lámpsakos. Segundo ele, essa praia atenderia a cinco importantes requisitos:

  • É cortada por dois pequenos riachos, o que confirmaria o nome do local como sendo Aigospotamói no plural: Potamói (Rios) e não Potamós (Rio);
  • tem quase dois quilômetros de comprimento, sendo longa o suficiente para acomodar as cento e oitenta trirremes atenáioi;
  • há uma planície contígua, ideal para um acampamento que deveria comportar cerca de trinta e seis mil homens;
  • é claramente visível a partir do sítio de Paktyê, onde vivia Alkibiádes;
  • está escondida do sítio original de Lámpsakos por um promontório, o que obrigaria Lísandros a precisar de trirremes para espionar seus inimigos;
  • a partir dela, Kónon poderia ter parado em Abárnos, pois o local estaria no seu caminho natural em direção ao Egeu.

Notas:

  • Ironicamente, Galípoli daria nome a um outro desastre vinte e três séculos mais tarde: a campanha dos aliados britânicos, franceses, australianos e neozelandeses contra os turcos entre abril de 1915 a janeiro de 1916. Ao longo de dez meses, os ocidentais tiveram cerca de 300 mil baixas, sendo 56 mil deles mortos em combate ou por doenças.